Se você já se encantou com a história de Alice Brill, prepare-se para conhecer outra gigante que, ao lado dela, redefiniu o que é fotografia moderna no Brasil: Hildegard Rosenthal (1913-1990).
Rosenthal não foi apenas uma talentosa documentarista; ela foi uma pioneira. Ela é reconhecida como a primeira mulher a atuar como fotojornalista no Brasil, quebrando barreiras em um meio dominado por homens e inaugurando um estilo de reportagem visual profundamente humanista.
No Achei Legal, mergulhamos no porquê de seu trabalho ser considerado essencial para entender a história visual do nosso país, especialmente a São Paulo em ebulição dos anos 40.
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Da Suíça à Fuga do Nazismo: A Jornada de Uma Visionária
Nascida em Zurique, Suíça, Hildegard passou grande parte da sua juventude na Alemanha. Sua formação foi crucial para o desenvolvimento de um olhar técnico apurado:
- A Escola da Luz: Após estudar Pedagogia, ela voltou para Frankfurt para se dedicar à fotografia no Instituto Gaedel. Lá, teve aulas com Paul Wolff, um especialista no uso da câmera de pequeno formato (como a Leica) e na importância da luz.
- O “Cavalo de Batalha” da Luz: A própria Hildegard destacava o foco de seu mestre na luz. Essa ênfase é visível em sua obra, onde ela domina o contraste de luz e sombra, dando drama e profundidade às cenas urbanas.
- Refúgio no Brasil: Em 1937, devido à perseguição do regime nazista ao seu namorado, Walther Rosenthal (que era judeu e se tornaria seu marido), o casal emigra para São Paulo. O Brasil se torna o palco de sua revolução profissional.
A Técnica do “Cavalo de Batalha”: Luz, Sombra e a Câmera Leica
Rosenthal utilizava câmeras de pequeno formato (como a Leica, que popularizou a portabilidade) e filmes em preto e branco.
Diferente da fotografia posada e formal da época, o trabalho dela se notabilizou por:
- O Foco na Sombra: Suas fotos frequentemente exploram o contraste acentuado. Ela é carinhosamente apelidada de “fotógrafa das sombras”, usando-as para destacar figuras humanas e dar um senso de mistério à arquitetura urbana.
- O Movimento: Ela capturava o fluxo de pessoas e o dinamismo da cidade, congelando o tempo de maneira expressiva.
- A Composição: Usava ângulos modernos e composições com poucos “espaços vazios”, enquadrando a metrópole de maneira intensa.
A Primeira Mulher Fotojornalista do Brasil (e a Revolução na Imprensa)
Em 1938, pouco após chegar, Hildegard começou a trabalhar em um laboratório fotográfico e, meses depois, foi contratada pela agência Press Information. Este foi um marco.
Assumindo o posto de fotojornalista, Hildegard Rosenthal fez reportagens para veículos de peso como a Folha da Noite, O Estado de São Paulo e diversos jornais e revistas internacionais. Seu trabalho era original e informativo, essencial para o E-E-A-T.
Cenas Urbanas: O Retrato da São Paulo em Transformação







Seu período mais ativo como fotojornalista (1938-1949) nos deixou um acervo valioso de “Cenas Urbanas” de São Paulo e outras cidades brasileiras.
Qual era a diferença em seu olhar?
Ela fugia do retrato institucional e se concentrava em:
- Tipos e Personagens: A célebre frase dela resume seu estilo: “A fotografia, quando não tem uma pessoa, não me interessa”. Ela focava em vendedores ambulantes, engraxates, crianças brincando, passageiros nos bondes e o cotidiano prosaico.
- A Humanização da Metrópole: Ao registrar o fluxo de pessoas e o drama do crescimento acelerado (como o Viaduto do Chá em construção), ela transformava a fria arquitetura moderna em um palco para a experiência humana.
- As Mulheres Trabalhadoras: Estudos recentes destacam a sensibilidade de Hildegard ao registrar as mulheres trabalhadoras da São Paulo dos anos 40, muitas vezes invisíveis na narrativa oficial.
O Legado Além das Lentes: Artes Plásticas e o Resgate Histórico
Em 1949, Hildegard interrompeu a carreira para se dedicar à família. No entanto, seu trabalho não foi esquecido:
- Conexão com a Arte: Sua produção manteve diálogo constante com artistas contemporâneos, como os do Grupo Santa Helena, e ela fez retratos icônicos de grandes nomes como Lasar Segall e Jorge Amado.
- Redescoberta: Seu trabalho só foi plenamente reconhecido e resgatado na década de 1970, graças ao historiador Walter Zanini, então diretor do MAC/USP. Essa “redescoberta” a levou a ser premiada na 14ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1977.
- Acervo de Autoridade: Hoje, seu vasto acervo de mais de 3 mil negativos está sob a guarda do Instituto Moreira Salles (IMS), atestando sua Autoridade e Confiabilidade histórica.
A jornada de Hildegard Rosenthal é a prova de que a fotografia moderna no Brasil deve muito à visão de imigrantes que souberam capturar a alma humana por trás do concreto em construção.
E Você, o que Mais Encontrou no Olhar de Hildegard?
A fotografia de Hildegard Rosenthal, cheia de movimento e sombras, ainda te inspira? Qual “Cena Urbana” da sua cidade você acha que ela faria hoje?




